– Sentada estou. É aqui que me vêem todas as
tardes e me imaginam a esperar a noite. O que mais esperaria além da passagem
da claridade? A hora em que me trancarei no meu quarto à espreita de um
visitante que rondará a casa e que nem sei se é real ou se urdido pela minha
fatigada solidão? Meu marido é incerto no vir, e todos o sabem. Pressentem que
anoiteço e, se passam à minha porta, me perguntam: “Esperando a noitinha, dona
Eufrásia?”. Mas o que me trará a noite além de um vento frio e de um silêncio
fundo? O cheiro de carne apodrecida do gado morto neste ano de seca, um bater
de portas que se fecham, o balido de ovelhas se aconchegando, o fungar das
vacas prenhes, o estalar das brasas que se apagam no fogão.
O sentido normal das palavras não faz bem ao poema. Há que se dar um gosto incasto aos termos. Escrever nem uma coisa Nem outra - A fim de dizer todas Ou, pelo menos, nenhumas. Assim, Ao poeta faz bem Desexplicar - Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes. Manuel de Barros
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sexta-feira, 18 de maio de 2012
terça-feira, 15 de maio de 2012
Aquela que não quis ser...
Clarrisa Macedo*
Nunca a mulher eleitaa mãe, a caseira. Jamais
a primogênita aceita.
Nunca a preferida assumida
ou a bela primeira legitimada.
Sempre a repartida, a preterida.
Dentre todas inteiras, a fragmentada.
Nela só a astúcia cruel,
molemente enraizada.
Só que a vida deu de adoecer
nela se putrefar
deu de sucumbir, se escrever
desabrochar
e desabafando,
a jogou bem no meio do mar.
*Clarissa Macedo é revisora e escritora. Nasceu em Salvador, em 1988, mas reside em Feira de Santana. Cursa Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural (UEFS). Faz parte das coletâneas Godofredo Filho (2010), Sangue Novo (2011) e Verso e Prosa (2011). Participou, em 2011, da IV Feira do Livro de Feira de Santana e da 10ª Bienal do Livro da Bahia na abertura da Praça de Cordel e Poesia.
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