Por Joelson Santiago Santos
Para construir o relato
aqui apresentado recorro à memória, em sua essência afetiva, que marcaram as
minhas experiências com a escrita/leitura. Para tanto, retomo “rasuras”
biográficas, pessoas e lugares fundamentais nesse itinerário de reminiscências.
Eu nasci e me criei
numa família matriarcal, na qual a minha Avó tecia harmonicamente a costura da
rotina doméstica e nos conduzia sempre com encantamentos cheio de cheiros,
sabores e saberes por meio de suas narrativas e vivências. Além da Minha Avó
Amália Santiago, convivi com minha mãe Maria das Graças Santiago, uma tia (materna)
e duas irmãs. Assim no meio desse “rosário de Marias”, o colo, a voz e
afetividade feminina sempre encheram o meu viver de alegrias, consolo e
cuidados...
A minha Avó:
nordestina, analfabeta e exímia contadora de histórias é a responsável pela
minha iniciação ao universo das narrativas. Ela por meio da sua voz aguda nos
prendia apresentado personagens, personalidades, causos e acontecimentos do plano real, mas principalmente do universo
do fantástico.
Mesmo sem saber ler
convencionalmente, recordo-me dela apresentando oralmente as histórias de cor, num
ritmo melódico, muito bem pontudas, carregadas de emoção e fortalecidas pelo
caráter testemunhal de quem vivenciou fatos históricos ou fantásticos como, por
exemplo, o surgimento da televisão no Brasil, a passagem de Virgulino Lampião
no interior da Bahia ou de uma certa menina malcriada que virou bicho...
Esse contato muito
contribuiu no meu interesse por histórias (ficcionais ou não), além de impulsionar
minha imaginação de criança com cenas e seres inesquecíveis, que renascem ou
são ressignificados em outros textos que leio ainda hoje.
Outro momento
importante da minha formação de leitor é fase da educação infantil. Nesse
período: as músicas, os contos de fadas, as fábulas e poesia se fizeram presente
com muita ludicidade. Lembro-me das professoras utilizando vários recursos de
contação para nos apresentar o universo mágico da literatura: fantoches,
dramatização, livros ilustrados, declamação...
Essa imersão no
universo de textos literários, estimulam-me, também, em imitar as minhas
professoras recontando as histórias aprendidas em casa, na rua com os colegas.
Acredito que tal desejo, estava vinculado com sentimento contagiado que a literatura
nos proporciona, principalmente quando ela é bem mediada.
Quando começo enveredar
pelo universo da escrita, o desejo de retomar as narrativas persiste e assim eu
reescrevia os contos lidos na escola, com ilustrações minhas e desfechos ou
personagens diferentes. Essa prática tinha o sabor de brincadeira realizada com
muita diversão e emoção até porque eu sempre me projetava nas histórias: eu
assumia o papel de protagonistas, narradores, heróis, assim eu experimentava
uma espécie de sociedade da imaginação.
Na minha casa não tinha
muitos livros e literários menos ainda, reescrever os textos e acumulá-los em
vários cantos da casa talvez fosse uma forma de ter as narrativas sempre
presentes ou acessíveis para leitura a qualquer momento.
As minhas aventuras com
a literatura ganharam força na minha adolescência, no momento que descobri a
biblioteca municipal da minha cidade, nela havia uma seção expressiva de
literatura e esse espaço me possibilitou ter contato com diversos escritos
importantes da literatura brasileira. Tive, inclusive, contanto com autores que,
na época, não conseguia nem compreender como Clarice Lispector e que mais tarde
me conquistou com narrativas viscerais e que, na atualidade, muito me dizem
sobre o viver.
Nessa biblioteca,
conheci poetas, cronistas, romancistas e contistas que marcaram minha vida
como: Carlos Drummond de Andrade, José de Alencar, Jorge Amado, José Lins do
Rego, Raquel de Queiroz, Eça de Queiroz, José Saramago, Machado de Assis, entre
outros gigantes. Essas experiências foram decisivas na minha escolha
profissional, pois a leitura, literatura e a escrita fazem parte do meu ofício
e tem um espaço especial em minha casa e coração.
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