Abdias do Nascimento, em Genocídio do povo negro no Brasil, aborda como o racismo genocida em diversos sentidos a população preta no país. Em Quarto de despejo encontramos fotografada essa realidade por meio de uma voz crítica, humana e lírica diante de um universo intercruzado por estruturas opressoras contra a figura de uma mulher negra, leitora, escritora, catadora, mãe solteira...
Carolina Maria de Jesus ao descrever o cotidiano da favela do Canindé (São Paulo), no seu diário, revela-se uma escritora consciente da sua função e do poder da sua escrita. Para Carolina, escrever também é uma forma de sobreviver naquelas incertezas da luta diária contra a fome e de resistir em face ao abando do Estado.
O livro Quarto de Despejo não se limita a contagem de dias e registros vividos pela escritora ─ como nos tradicionais diários─, nele encontramos uma experiência estética delineada por suas afrovivências e pelos seus itinerários de catadora na busca de papéis avulsos, onde entre seus achados (revistas, livros, cadernos e jornais) alimentava a alma de escritora e levava comida para casa.
Publicado em agosto de 1960, foi traduzido para vários idiomas, rendeu fama para escritora e foi um sucesso de vendas na época. No entanto, Carolina Maria de Jesus não é conhecida por muitos brasileiros e ainda não está na lista de escritoras de vários compêndios literários que circulam em nossas escolas por questões estruturais da nossa sociedade que historicamente segue invisibilizando muitas de nossas produções.
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